BLOG DO SANTO ANDRÉ FUTEBOL CLUBE

De 18/09/1967 até 22 de março de 1975 foi o nome do Esporte Clube Santo André
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quinta-feira, 5 de março de 2015

José Carlos Batista – Cite

Hoje é aniversário de José Carlos Batista, o Cite! Uma figura importante no cenário do Santo André Futebol Clube, contribuiu na formação do time.

Nasceu com o nome de José Carlos Batista no dia 05/03/1943. Palmeirense e Pelezista, como ele mesmo se define, Cite iniciou sua carreira jogando na várzea de Santo André. Começou a sua carreira no futebol de Salão, jogando no Primeiro de Maio, como atacante, onde colecionou muitos títulos.

Na várzea jogou no Vila Alice, como ponta de Lança, sempre gostou de jogar como volante, sair pro jogo e aparecer como elemento surpresa. Porém quando fazia testes nos times, observou que a vaga no meio campo era muito concorrida e decidiu jogar como quarto zagueiro.

Jogou mais de 20 anos pelo Vila Alice, mas passou também por outros times da várzea. Apaixonado pelo futebol varzeano, jogou no Santos do Parque, no Sete de Setembro, no São Jorge. Trabalhou como ferramenteiro na Cofap e ainda muito jovem foi titular da seleção da Cofap. Também jogou pela Firestone. Nessa época, as fábricas montavam seleções e saiam para jogar pela várzea.

Como profissional, começou no juvenil do São Paulo com Jose Poy em 1963, que o indicou para o São Paulo de Araçatuba, quando tinha 19 anos. Porém o time não cumpriu o prometido com ele, então retornou a Santo André. Na época, o time fazia peneiras para escolher os jogadores que iriam representar a cidade em um time profissional.

Em 1967 foi convidado a uma peneira da equipe recém formada do Santo André futebol Clube contra a Firestone e agradou tanto o técnico Manga, que já o tirou do time da Firestone e assinou um contrato com a equipe Andreense. Participou de todo o treinamento para a partida inaugural contra o Santos.

Marcou a história do Santo André Futebol Clube, participando ativamente dos principais acontecimentos da Equipe. Em 13/03/1968 participou do primeiro amistoso não oficial do clube, contra o Saad, vitória pelo placar de 3 a 1. Jogou o primeiro jogo oficial do Santo André Futebol Clube, contra o Santos em 08/04/1968 (vitória do Santo André pelo placar de 2 a 1). Participou também do primeiro jogo internacional do clube contra a seleção do Congo e da primeira partida do Estádio Municipal Bruno José Daniel, em 1969 contra o Palmeiras, derrota pelo placar de 4 a 0, em 14/12/1969

domingo, 1 de dezembro de 2013

Time de 1968 destacado por Enir

Uma das figuras mais queridas do time do Santo André FC, Enir Ghirelli esteve presente desde a fundação do time até a inauguração do Estádio Municipal em 1969. Figura carismática e divertida, conta boas histórias da época.

Enir também é muito sincero. Nessa entrevista, ele destaca os atletas da época. Vale a pena ouvir...


Marcelo Alves Bellotti

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Santo André - 460 anos de História

Hoje é aniversário da cidade. Data para relembrar histórias fantásticas e pessoas ilustres que ajudaram a construir essa história.

A história da cidade se confunde com a do time de futebol e com a história de uma figura ilustre do esporte Andreense. A do senhor Wigand Rodrigues dos Santos.

Hoje vou apenas relatar a história do primeiro jogo do Santo André contada pelo seu protagonista em uma entrevista concedida em 2010 no tradicional bar do Mazinho...

Como foi a formação do time do Santo André?

A história é longa, Santo André sempre teve um futebol amador muito forte, havia bairros com cinco ou seis agremiações esportivas amadoras, mas não tinha uma representação de futebol profissional e nem tradição no profissionalismo, diferente de outras cidades do Estado como Santos que tinha o próprio Santos, a Portuguesa Santista, o Jabaquara... Ribeirão Preto que tinha o Comercial, Botafogo... Campinas com Ponte Preta e Guarani... Santo André não tinha uma representação profissional.

Eu fui eleito presidente da Liga (Liga Santoandreense de Futebol) e tinha a consciência dessa lacuna na cidade no que diz respeito ao futebol. Fizemos um bom trabalho na Liga Santoandreense de Futebol, criamos mais de 100 clubes, os ajudamos a se reorganizarem burocraticamente junto aos poderes constituídos (Federação). Naquele tempo tinha Alvará de Funcionamento Desportivo que era obrigatório e tinha que tirar em São Paulo.

O primeiro campeonato que nós dirigimos na Liga reuniu quase cem clubes amadores. Eram campeonatos principais e aspirantes, porque a Federação Paulista também determinava a existência da representação de Aspirantes. Então as cem equipes principais mais as aspirantes formaram quase duzentas equipes de futebol na cidade. Isso para jogar nos domingos. A decisão demandou uma quantidade de campos muito grande.

Essa efervescência na Liga de Futebol era tão grande que o trânsito chegava a parar na Rua Gertrudes de Lima nos dias de acerto de jogo, tal a quantidade de dirigentes de clubes amadores que lá compareciam.

E o assunto quando se discutia futebol profissional e que não envolvia interesse imediato dos clubes era exatamente sobre a não existência de uma representação profissional na cidade de Santo André. 

Foi por isso que, ouvido os desportistas da cidade, nós publicamos no boletim oficial da Liga uma carta aberta a todos os desportistas da cidade lamentando a inexistência de uma representação e propondo a fundação de um clube que levasse o nome da cidade. Complementamos que seria usado como o distintivo, em cima do coração o brasão do município e o nome “Santo André”!

Assim convocamos uma assembléia no Tiro de Guerra, gentilmente cedida pelo seu comandante à época. Lá comparecemos e juntamente com cerca de trezentos representantes de clubes amadores.

Nessa Assembléia foi aprovada fundação do clube, o projeto de estatuto do clube, foi eleito o primeiro conselho deliberativo com cinqüenta e um presidentes de clubes amadores, que foi o primeiro conselho deliberativo do Santo André. Nome do presidente e nome da agremiação. Temos nesta ata também lá no clube. Foi assim que fundamos o Santo André, de uma forma totalmente diferente do que já houve no Brasil. Não foi por obra e graça do Espírito Santo que “deu na telha” para se formar um clube de futebol profissional.

Eu fui um instrumento de uma vontade popular. A vontade que existia naquele momento no seio da Liga de Santo André, dos clubes amadores de Santo André. Foi assim que fundamos o Santo André... Elegemos como presidente o Doutor Newton da Costa Brandão, e aqui precisa abrir um parênteses porque ele era político e nós achávamos que ele deveria ser o novo presidente do clube e mantínhamos essa posição porque acreditávamos que ele se elegeria prefeito, como de fato se elegeu. E como prefeito procurou ajudar o Santo André na medida do possível e depois com a cessão da área do Distrital do Jaçatuba, onde temos um clube maravilhoso. Então assim elegemos o Doutor Brandão como o primeiro presidente, eu aceitei a ficar na chapa como Vice e com a diretoria formada nós começamos os treinamentos lá no campo da Laminação Nacional de Metais.

Escolha do primeiro amistoso: Santos Futebol Clube

A Diretoria do Santo André deliberou fazer uma apresentação oficial do Santo André para a cidade, sua população e seus desportistas. Por intermédio do Nestor Pacheco Junior (já falecido) que tinha um alto conceito com o time do Santos, pois fora diretor do Santos também, foi acertado um amistoso aqui no estádio Américo Guazzelli, o campo do Corinthinha que nós chamávamos, onde seria apresentado o time do Santo André.

Nesse jogo amistoso o Pelé compareceu com a dona Rose, no dia do aniversário da cidade de Santo André, dia oito de Abril de 1968 e houve então a partida de futebol onde o Santo André saiu vitorioso por dois tentos a um, sendo o primeiro gol marcado pelo Enir Ghirelli. Foi assim a primeira apresentação do time, com o estádio Américo Guazzelli lotado, a polícia teve até que impedir o acesso no estádio, pois a participação popular foi muito grande, e ganhamos de dois a um. Isso para início de conversa foi até muito bom porque ganhar do Santos não era fácil, naquela época eram imbatíveis. 

Como foi o clima na cidade para receber o Santos no primeiro jogo do time profissional

Nós recebemos o apoio indescritível da mídia local, da imprensa. Naquele tempo o News Seller, que ainda não havia se transformado no Diário do Grande ABC, deram toda a cobertura do evento em Santo André. A expectativa foi muito grande porque era o noviciado do Santo André jogando contra o Santos... Esperava-se até goleada (desfavorável). Mas o time do Santo André se portou com dignidade e com brio em campo, igualou a partida e ganhamos de dois tentos a um, gols do Enir e do Zezé, que era jogador do Santo André e o gol do Santos foi feito pelo Negreiros, num escanteio batido pelo Pepe. O fato é que a cidade botou fé... Até mesmo os pessimistas botaram fé que havia possibilidade de se manter um time de futebol profissional na cidade.

O zagueiro Anisio lembrou... "Nós tínhamos mais jogadores experientes como o Zezé, o Dorival que era o goleiro, o Zezé teve uma importância fundamental ainda mais com o pessoal que era amador em santo André, procurou acalmar a todos, sabendo da importância do jogo, o primeiro da história do Santo André e que eles deveriam jogar naturalmente como se estivessem jogando com um time amador ou qualquer outro time, sem maiores problemas onde se ganhasse ótimo, mas se perdêssemos, não seria nenhuma desonra.  Felizmente deu certo!"

Marcelo Alves Bellotti

sábado, 30 de março de 2013

Estréia de Tulica no Ramalhão

Estávamos no período de início do ano de 1974 e o Santo André FC se preparava para o início da preparação de um grande time, que no ano seguinte se sagraria campeão Paulista da Primeira Divisão (segundo nível).

O começo foi difícil, pois em 1973 após uma crise de falta de dinheiro trouxe a ameaça de não disputa da primeira divisão pela ausência de um estádio compatível. Houve o risco do time deixar de existir. O presidente da época, Jose Amazonas, um próspero empresário da região já não estava mais disposto a tocar o time sem apoio da prefeitura, o que significava a conclusão do estádio. Em uma declaração ao Diário do Grande ABC, o mandatário Andreense decretou:

"Se não apresentei nenhuma ideia capaz do prefeito (Antônio Pezzolo) julgá-la possível de ser transformada a culpa não me cabe. Aliás ninguém apresentou nenhuma ideia a não ser a extinção do profissionalismo e a manutenção da equipe de juvenis preparando-se para 75 quando o Estádio está complementado para receber grandes públicos."

Nessa hora, novamente o sr Wigand Rodrigues agora funcionário público, administrador do Estádio Municipal Bruno José Daniel, levantou a sua voz e declarou: "Santo André não pode ficar sem um representante no futebol profissional e como não apareceu ninguém disposto a substituir o Dr. Amazonas decidi aceitar." O dirigente ainda ressaltou que não tinha a mesma condição econômica de José Amazonas, mas decretou: "Sempre achei que o que leva um clube a ser grande é a força popular. Não adianta termos "perfumados" apenas para preencher cargos que o "povo" sabe utilizar".

Wigand foi eleito por aclamação e começou a formar o esquadrão andreense de 1974. Para o comando técnico foi chamado Pacau que apostou em um time jovem, mas experiente com nomes como Ulisses, Luiz Augusto, Celso Mota, Tadeu, Giba e Fernandinho. Nessa época marcada pela formação do time Andreense, foi marcado para o dia 10 de março um amistoso contra a equipe do Velo Clube no estádio Bruno José Daniel. O jogo marcaria a estréia de um atacante que havia se destacado nas seleções amadoras de Santo André e com passagens pelos juvenis do Santos e do Atlético de Carazinho. O centroavante Tulica, o maior artilheiro da história do Santo André.

Tulica já impressionou no coletivo, marcando dois gols e sendo o destaque do treinamento, juntamente com Bodinho, um ponta de lança vindo de Araçatuba.

Do lado do Velo Clube o destaque era o centroavante Ditão. O jogo mostrou um Santo André eficiente. Rodolfo anulou a força ofensiva do Velo Clube e se transformou no melhor em campo. O que realmente marcou esse jogo foi quando, aos 22 minutos do primeiro tempo Tulica recebeu de Vicente, fintou com o corpo o zagueiro Ercilio e da entrada da área chutou forte para marcar o gol único da tarde da vitória do Ramalhão pelo placar mínimo.

Assim o grande herói Alberto Soares de Araujo, ou simplesmente Tulica começava a escrever uma história de 63 gols com a camisa do Santo André, se transformando no maior artilheiro da história do Santo André e o primeiro grande ídolo da torcida Ramalhina.

O Santo André jogou com Silva, Luizinho, Rodolfo, Tito e Luiz Augusto; Celso Cahimbo, e Ulisses; Celso Mota (Mané), Vicente, Tulica (Bodinho) e Nascimeto. O Velo Clube jogou com Renato, Celinho Ercílio, Klein e Cícero; Zé Roberto e Luiz Augusto; Maurilio, Valtinho, Dicão e Canhoto. A renda foi de 4.429 cruzeiros e o jogo foi arbitrado por Alfredo Gomes.

Marcelo Alves Bellotti

domingo, 27 de maio de 2012

Santo Andre FC derrota Santos em partida revanche


Estávamos no ano de 1971, ano em que o Esporte Clube Santo André ressurgia após dois anos afastados das competições oficiais e apenas fazia amistosos.

A equipe começou o ano treinada pelo técnico Pacau, porém no jogo específico contra o Santos, o técnico do Santo André foi nada menos que Lula, o eterno técnico campeão no próprio Santos.

De Lula no Santos se contam muitas histórias. A primeira é que ele chamava a equipe no vestiário e "jogava as camisas para cima". Os que conseguissem pegar as camisetas jogavam. Outra lenda envolvendo o seu nome é de que Lula dormia em campo quando o Santos jogava.


Pelé contava também que o Santo que protegia o Lula sempre permanecia invicto, pois quando o time perdia, a culpa era sempre do time e quando ganhava, era do Santo.

Para essa partida, o Santos viria capitaneado por Carlos Alberto Torres, que jogaria na zaga, pois estava voltando de uma intervenção cirúrgica.

O amistoso foi marcado para o dia 15 de novembro no estádio Américo Guazzelli, mesmo palco primeiro jogo da história do Santo André, contra o mesmo Santos três anos antes.

O jogo foi equilibrado e no final marcado com dramaticidade. O Santos marcou primeiro, Cruzamento de Ferreira e gol de Adilson.


Aos poucos o Santo André foi equilibrando o jogo até que aos 30 minutos Pererinha lançou Ademir que driblou o seu marcador e da entrada da área grande soltou a bomba. Era o empate do Santo André.

No começo da segunda etapa, Ulisses recebeu um belo passe de Elias e chutou no canto do goleiro Edward, do Santos. Era o gol da virada. Após o gol da vantagem ramalhina, o time se retraiu e só não tomou o gol de empate graças à grande atuação do goleiro Carlos, além da sorte de duas bolas arremessadas contra as traves Andreenses.

A pressão do Santos aumentou a partir dos 30 minutos após a expulsão de Elias no time do Ramalhão, que segurou o resultado à base de muita catimba e garantiu mais uma vitória do Santo André FC contra o Santos. O time andreense contou também com a invasão de um cachorro, que fez com que a partida fosse interrompida, esfriando o time da Vila Belmiro.


No final do jogo, mais uma vitória Andreense novamente pelo placar de 2 a 1 e de virada, que serviu para aproximar cada vez mais o time com o torcedor da sua cidade.

Santo André FC 2x1 Santos

Santo André: Carlos, Luizinho, Sebastião Lapola, Miltão e Murias; Pereirinha (Jonas), Elias e Maurinho; Ademir (Garcia), Ulisses e Gaspar.

Santos: Edward, Otávio (Roma), Carlos Alberto, Carioca e Nelci; Pitico e Djalma Duarte (Bargas); Jader, Fito, Adilson e Ferreira.

Marcelo Alves Belotti

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

História - Inauguração do Estádio Municipal



A história conta que o Estádio Municipal, depois batizado de Bruno José Daniel, foi inaugurado em uma partida que envolveu Santo André e Palmeiras. A situação do Santo André Futebol Clube não era boa, pois a equipe no começo do ano se recusou a disputar a segunda divisão (Terceiro Nível) do Campeonato Paulista.

Com a construção do Estádio Municipal, a esperança era disputar a primeira divisão (Segundo Nível). Porém questões políticas e a demora para a construção fizeram com que o time Andreense não participasse de competições oficiais em 1969.

Para piorar a situação, a diretoria do time Andreense em meados de junho, decidiram liberar todos os seus atletas profissionais exceto Carioca, Nilton Cite, Alberto e Roney, que foram revelados pelo futebol amador da cidade.

Com uma equipe formada praticamente por amadores, no dia 14 de dezembro de 1.969, o Santo André encarou o Palmeiras, então campeão do torneio Roberto Gomes Pedrosa, que jogou com as ausências dos jogadores que representavam São Paulo no campeonato de seleções.

O jogo foi tranqüilo para o Palmeiras e o resultado acabou 4 a 0 para o time da capital. Enir chegou a declarar que na época os jogadores não tinham experiência necessária para o jogo, estavam extremamente nervosos e acabaram se transformando em presas fáceis para o time alviverde. A partida teve a arbitragem de Dulcidio Vanderley Boschilla e teve uma arrecadação de Ncr$13.185, com um público pagante de 3.034 pessoas.

O Diário do Grande ABC destacava: "Saliente-se que o estádio estava literalmente tomado, o que equivale dizer que muitos "penetras" conseguiram adentrar graciosamente!"

A festa de inauguração do Estádio Municipal, que a partir de 10 de outubro de 1.973 passou a se chamar Bruno José Daniel, foi jogada por:
Palmeiras: Chicão (Bernardino); Neves (Robertinho), Luís Pereira, Giba e Dé (Wilsinho); Zé Carlos e Alfredo (Pedrinho); Copeu (Cassiano), Cabralzinho (China), Vágner (Nei) e Marco Antonio (Pasternack).

Santo André: Clóvis; Luisinho, Juba (Jandaia), Cite e Shell (Alberto); Moacir (Mário) e Enir, Roney, Sapito e Stefano (Marco Antonio).

Marcelo Alves Bellotti

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Santo André FC x Minister - Jogo Inacabado

São várias histórias que marcam a trajetória do Santo André Futebol Clube. Uma delas foi descrita para mim em março de 2010, em um sábado em que estive em companhia de várias personalidades do futebol andreense. Conversamos durante quase três horas na sede do bar do Mazinho com o sr. Wigand, que foi presidente da Liga Andreense de futebol, fundador do Santo André Futebol Clube e quem mais lutou para que esse clube não acabasse.

Também conversamos com o Anísio e com o Enir. Anísio Zornetta jogou no Santo André FC entre 1968/1969, Participou do primeiro amistoso não oficial do Santo André (Santo André 3X1 Saad, 13/03/1968), da primeira partida oficial (Santo André 2X1 Santos, 08/04/1968), do primeiro amistoso internacional (Santo André 1x0 Seleção do Congo, 01/05/1968), entre outras.

Enir Ghirelli foi um dos primeiros jogadores do Santo André, estando presente no primeiro treino da equipe, em 14/01/1968. Foi autor do primeiro gol da história do Santo André, no dia 08/04/1968 no Estádio Américo Guazzelli, ao 31 minutos do 1º tempo, em um amistoso contra o Santos-SP. A partida terminou com o placar de 2X1 para o Santo André. Jogou também a partida inaugural do Estádio Bruno José Daniel (Santo André 0X4 Palmeiras, 14/12/1969).

Enir é uma pessoa extremamente divertida e conta histórias fantásticas sobre essa época. Na nossa pesquisa houve um jogo inacabado contra o Minister, de Santo Amaro. Perguntamos a ele o que aconteceu nessa partida, pois o árbitro terminou o jogo por falta de condições de segurança após expulsar quatro jogadores do Minister. A versão do Enir foi a seguinte:

- "Nós combinamos que iaos fazer o gol e depois íamos só bater. Aí acontece que teve um entevero na área deles, tinha um central que tinha batido muito no Nilo, que era nosso centroavante, ele pisou no joanete do Gaúcho. O Gaúcho ja tava "no veneno" e aí começou. Começou mais eles correram já... e se enfiaram pelo túnel do Corinthinha e não voltaram mais... abandonaram o campo.


-"Se o juiz tivesse que expulsar alguém seria o Gaucho, nosso quarto zagueiro. Ele saiu batendo em todo mundo. O Manga tentou segurar ele, ele "sentou" a mão no Manga, e os caras se enfiaram para dentro do vestiário e não retornaram, e o juiz acabou o jogo... foi abandono. O jogo tinha trinta minutos do primeiro tempo. Acho que o juiz pra não prejudicar o Santo André escreveu que expulsou quatro jogadores do time deles. Mas os caras não voltaram."

O jogo terminou 0 a 0 e o árbitro citado pelo Enir foi Hermínio Aggio, que terminou o jogo alegando falta de garantias. Segundo a súmula, ele expulsou de campo os atletas Naco, Wilson, Esquindô, Roberto e Múcio, todos do Minister.

O Santo Adré jogou com Dorival, Zé Roberto, Edson, Gaucho e Sorocaba; Mario e Enir; Joaquim, Dirceu, Nilo e Luiz Carlos.  

O Minister: Julio, Naco, Mucio, Roberto e Vanderlei; Esquindô e Wilson; Costeleta, Flavio, Raul e Hilário.

Marcelo Alves Bellotti

domingo, 22 de janeiro de 2012

Apresentando o time - Entrevista com Cite

Em 16 de março de 2008 entrevistamos Jose Carlos Batista, o zagueiro Cite, que marcou sua história no Santo André, participando do primeiro amistoso não oficial do Ramalhão (Santo André 3X1 Saad, 13/03/1968), da primeira partida oficial (Santo André 2X1 Santos, 08/04/1968) e da partida inaugural do Estádio Bruno José Daniel (Santo André 0X4 Palmeiras, 14/12/1969). Revelado no futebol amador da cidade, Cite revelou todo o seu carinho e respeito pela sua origem. 

Essa entrevista encontra-se publicada em  http://www.ramalhonautas.com.br/entrevistas/cite.htm 

Marcamos a entrevista por telefone e quando chegamos a casa do Cite, o encontramos bastante emocionado. Conversamos por volta de 40 minutos antes da entrevista e por várias vezes ele nos disse que os Ramalhonautas foram os únicos a lembrar dele.

Onde você começou a carreira, Cite?
Na várzea, né, nessa época aí, mais no Vila Alice, joguei mais de vinte anos no Vila Alice na Várzea, tenho o maior amor é pela várzea, realmente eu falo que isso é que nem um câncer, a gente nunca... ta sempre com a gente, né. Não tem jeito, mas fora eu joguei em outros times, nossa... joguei no Santos do Parque, no Sete de Setembro, São Jorge, quem mais? joguei em tantos times... Firestone, eu entrei na Cofap com... eu fui ferramenteiro na Cofap, eu tinha 14 ou 15 anos e já era titular da seleção da Cofap, não era fácil, você jogava com um monte de cara de nome... futebol de salão, também, joguei no Primeiro de Maio, onde tive muitos títulos, só que era gozado, no Primeiro de Maio eu era atacante. Eu comecei no futebol como atacante, eu era um ponta de lança, não um centroavante fixo, naquele tempo eram praticamente cinco atacantes, quatro atacantes e só dois no meio campo, era o 4-2-4, não tinha jeito... no meio de campo você "morria"... marcar no meio campo você tinha que ter fôlego, né. Depois eu fui mudando, tem um tal de Ferreira, técnico do Vila Alice que me viu jogar uma vez e me disse "Olha, você vai vir jogar prá nós". Aí ele me colocou de meia armador... passou um tempo, eu virei médio volante. Eu joguei muito de médio volante, eu gostava muito de jogar de volante, gostava de pegar a bola, dar aqueles piques em cima dos caras, precisa ter fôlego. mas quando você vai treinar com os profissionais, você não tem chance de jogar como volante, era a posição mais disputada... volante, meia esquerda ou direita. Eu joguei um bom tempo no juvenil do Corinthians, no Bom Romão, no São Bernardo... sempre de quarto zagueiro, por que quando o técnico vai formar o time ele pergunta: quem é goleiro? Um monte. Quem é lateral? um ou dois. Quando chega ao meio campo... é dez ou mais... você não tem nem chance de treinar. Aí comecei a gostar de ser quarto zagueiro. Só que na minha idéia, quarto zagueiro e central é a mesma coisa..., pois você tem que trocar sempre de posição, fazer cobertura quando o outro zagueiro sai... foi a posição que eu encerrei a minha carreira agora em 2003, que se foram os dois joelhos. E agora por causa desse acidente que aconteceu comigo, não tem mais jeito de eu jogar mais não... agora chega mesmo. (Nota dos Ramalhonautas: Cite foi vítima de um atropelamento em 12/2007)

Como profissional, só jogou no Santo André?
Só no Santo André... eu treinei seis meses no São Paulo. Em 63, cheguei a jogar duas vezes no aspirante do São Paulo. O Poy me indicou pra jogar em Araçatuba, no São Paulo de Araçatuba, eu fui pra lá... só que eu tava no Tiro de Guerra, eu falei pra eles que eu tinha que voltar pro tiro, senão eu perdia o ano, voltei pra Araçatuba já com contrato assinado, mas não cumprido... praticamente só a base de água, sem comer... fiquei barrigudo e caveira... e um calor desgraçado!!! Por que os caras não cumprem o que prometem... aí eu pensei: quer saber de uma coisa, eu vou embora... caí fora de lá... quando eu cheguei aqui, faltava a assinatura do meu pai, pois eu era menor de 21, tinha 19, acho, e aí consegui rasgar o contrato... o pessoal me levou o contrato pra assinar eu levei lá pra dentro e rasguei e falei, pode ir embora que eu não vou mais pra lá não... não fiquei preso, né? Só que eles me ligavam pra caramba querendo que eu fosse, dizendo que tinha jogo da segunda divisão, daqueles times que jogam duro pra caramba... não era fácil. Treinei no Corinthians também, um tempo antes do São Paulo, também não deu certo por que eu falei pra vocês que eu era médio volante... chegando lá pra treinar, tinha times e times formados, tudo esperando pra jogar... Quando começamos a treinar, esses professores de escola levou a gente com um time, três do Vila Rica, um do Brasil e um da Federação. Pô... matamos a pau os caras com o toque de bola, o técnico era o Alfredo, ele foi pro Nacional, ai entrou o Rato, um cara mal educado, ele chegou num restaurante e tinha uma chancela que tinha lá e tava barrando a passagem e só ele que tinha o cartão autorização né, então ele veio, e o outro meu colega, por que eu fui em dois, né... de cinco fomos só em dois... aí os outros... "- volta daqui há um mês"... aí ele começou a chiar, né... aí ele nos mandou pra aquele lugar.
"-Quer voltar à hora que eu quiser!!!" Foi assim... pô, a gente foi lá pra falar com o técnico... eu sei que eu treinei um jogo, a pedido do técnico que queria me ver mais uma vez, e depois me dispensou. A turma até estranhou lá, mas tudo bem. Mas aí foi só isso. Profissional eu joguei só no Santo André mesmo.

Quem fez o contato para você jogar no Santo André?
O Santo André estava fazendo as peneiras para escolher os jogadores... e podia participar qualquer um. Nos times da várzea, os próprios técnicos indicavam os melhores do time. No Vila Alice, foram indicados uns cinco jogadores e eu nem estava no meio! Nessa época eu trabalhava na Firestone e um amigo meu veio me chamar para ir lá na peneira... e você sabe como é, né? a gente adorava jogar bola e eu topei. Chegando lá, eu começei a jogar e depois de uma meia hora o Manga já me puxou e me falou: "Vem cá, você vai jogar no meu time". 


Então não foi um contato pra jogar; houve a peneira, você jogou e o Manga já fez um contrato!
Sim, fiz esse jogo treino, contra o Santo André, por que o Santo André fazia muito jogo treino, nossa... depois que eu entrei lá, jogamos um monte de vezes, pra preparar o time, por que vinha muito jogador de Santos, e a maioria ia embora por que não dava certo e aquele dia deu certo pra mim.

Isso foi antes da fundação?
Acredito que já tenha sido depois da fundação, eles estavam preparando as coisas.

Qual era a expectativa da cidade quanto à fundação do time?
Olha a cidade sempre foi meio apagada pra isso, nunca teve incentivo... o pessoal gostava mais da várzea mesmo, né? E não foi feito um trabalho de marketing avisando o pessoal que Santo André estava lutando pra ter um time, chamar os times de várzea pra ver jogos, fazer preliminar com times de várzea... uma vez ou outra só! Quando fazia isso enchia de gente, o pessoal ia mesmo, então a falha foi essa... faltou mais divulgação!

O Santo André sempre teve tradição de jogadores da várzea darem certo no time... o Tulica por exemplo, saiu da várzea...
Nossa Senhora... o Tulica pelo amor de Deus, eu tenho amizade com ele, já jogamos juntos no Aramaçan, foi um centroavante que acho que não existe igual hoje, sinceramente, falta hoje um cara como ele, rápido, tem um domínio de bola que, mata no peito igual o Pelé fazia, a bola parava, e é artilheiro. O Tulica poderia ser hoje um treinador de centroavante...

Quando montaram o time, o primeiro amistoso foi contra o Saad, não é? 3 a 1 para o Santo André.
É... amistoso com profissionais foi o primeiro. Plantaram a grama do estádio do Corinthinha, naquele dia choveu pra caramba, a grama era nova, mas com a chuva só ficou o barro. O Saad tinha um timaço... tinha um tal de Zé Carlos que jogou no Noroeste e na Portuguesa, ele era atacante. Fiz uma marcação nele, e o que ele me xingou... (risos) Acho que eu fiz umas 40 faltas nele. O campo tava muito liso... e o Manga gritava: "Chega junto... Chega junto!!" E com um cara desses você tem que fazer assim... tudo falta leve, sem maldade! Ate hoje quando eu o vejo, comento. "Poxa, aquele dia você me xingou pra caramba!!"

Você lembra quem fez os gols?
Não lembro, não consigo me lembrar... eu sei que estava 1 a 0 pra gente, eles empataram e nós fizemos 3 a 1. Depois, em seguida jogamos com o Santos. Aí o campo estava seco!!!

Inclusive essa foi considerada a primeira partida oficial. Quando falaram que a primeira partida seria contra o Santos de Pelé como vocês receberam?
Nossa senhora, A gente sabia que vinha um time misto, mas quando o Pelé chegou lá ficou todo mundo louco... eu sou Pelezista, se alguém falar mal do cara, eu fico doido! Falar em Maradona... Sem comparação! Isso é brasileiro querendo falar mal de brasileiro!!! Tem que dar valor pra ele!!! Vê-lo foi a maior emoção... ver o cara entrar em campo... eu só senti não tirar fotografia com ele. O Cesar Franco, que era preparador físico tem as fotos com o Pelé e com todo mundo. Ele tem tudo na mão, inclusive. Você fala com ele e ele tira do bolso e te mostra. Foto com o Edu e todos os caras. No fim de ano a gente se encontrou e ficamos vendo as fotos. Alguns podem achar idiotice, mas eu acho legal pra caramba... é um fato histórico... Não pode deixar passar... Quem viu o Pelé jogar como eu vi. Eu fui à Javari ver o Pelé jogar... Lá devem caber umas três mil pessoas, né... devia ter uns dez mil. Gosto muito de bom futebol. Aquele jogo foi emoção! Eu vi Pepe, Orlando Peçanha campeão do mundo, vi Negreiros, Aroldo, Turcão... que eu lembro foram esses... foram vários jogadores, esses foram os que eu lembro. O Palmeiras quando veio... nossa, veio tanta gente... tinha até Argentino contra nós... um Argentino entrou de centroavante, um cara bom!

Não era o Madurga?
Não! Acho que nunca teve chance no time de cima! O Palmeiras que veio jogar aqui era o primeiro ano do Luiz Pereira, Alfredo... todos eles tinham sido promovidos ao time de cima!

Após o jogo do Santos, o Pelé elogiou muito o Santo André... Declarando que "Esse time vai longe"...
Foi sim! Eu não me lembro de ter lido, mas o pessoal falou... O Manga, por ser de Santos fazia o Marketing do clube por lá! Ele conhecia todo mundo! O Pelé chegou a jogar com ele, no final da carreira dele, então era muito legal! Quando a gente ia pro jogo, que ficava lá na arquibancada, o povo ficava tudo com a gente... era legal pra caramba!!! E naquele dia no Corinthinha, tava lotado também, não cabia mais ninguém, você não via nenhuma brecha...

Acabou o jogo, ganharam do "Todo Poderoso" Santos... Como foi?
A gente foi pra um jantar, um jantar na Churrascaria São João. Eu fui, mas eu sofri pra caramba, pois tinha machucado o joelho e eu não tinha condução, tive que me virar, não tinha nada!!! Fui pra casa sozinho, sofri pra caramba, aí no outro dia fui trabalhar, aí eles me mandaram no Brandão, o Dr. Brandão era o presidente e era médico da Santa Casa e me mandaram ir lá falar com ele. Eu fui. Ele olhou assim, disse "Olha, eu vou engessar!" Nem tirou chapa nem nada! e me mandou pro gesso... quando chegou lá no gesso, a pessoa que ia me engessar era enfermeiro da Firestone. Um cara invocado!!! Fingiu que não me conheceu. Falou "olha eu vou engessar daqui até aqui embaixo" (Mostrou a perna inteira com as mãos). Eu disse "Opa!! Eu vou por o gesso daqui até aqui só!!" (Mostrou apenas a área do joelho). "Depois como é que eu vou trabalhar, meu??" Eu dependia do trabalho... não deixei engessar não!!! Fiz o tratamento, foi a melhor coisa. mas o jantar foi muito bacana!!

Quais jogadores você lembra mais daquela época?
Olha, eu lembro muito do Albertinho, hoje tem uma lanchonete... Eu até fiz uma visita a ele agora, e chegando lá ele não me reconheceu... de cara não!!! Depois conversamos e ele chorou muito!!! Eu também!!! Aí eu dei um presente a ele... (uma foto do time de 1968) ele pendurou na parede da lanchonete... jogava muito ele!!

Existia alguma rivalidade entre o Santo André e o Corinthinha?
Acredito que não, por que eles emprestavam o campo inclusive, a gente mandava jogo lá...

Dizem que quando construíram o Brunão eles quiseram usar o estádio também, depois tiveram que se licenciar do Paulista...
eu sei que depois que eu parei no Santo André eles voltaram pro profissional, a gente ficou um tempo jogando junto depois eles pararam de vez. Agora é clube, somente.

Você lembra-se de alguma história engraçada ou curiosa da época?
Sempre tem... uma não foi engraçada, nós fomos jogar contra o Derac de Itapetininga, e quando eles vieram aqui... saiu briga!!! A nossa torcida bateu neles!! Um cara disse "- Lá, vocês vão ver!!" Poxa... nós somos jogadores... a briga foi com a torcida. Lá o ambiente pesou, cara!! O pessoal querendo matar a gente logo que nós chegamos!!! Aí veio o jogo!! Tinha um cara, que no jogo daqui, nós fizemos a maior amizade com ele... até por que eu era um cara leal. Então quando chegou lá, entramos em campo ele veio me procurar... Me cumprimentou e disse "Olha, hoje a barra vai ser pesada, mas você pode ficar tranqüilo, que a hora que sair a confusão eu vou te proteger!" eu falei para ele: "Você vai me desculpar, mas eu vou com o time também, não vou deixar ninguém sozinho!" E nós demos azar de fazer um gol logo de cara... o Joaquim que jogava muita bola. Aí eles começaram com pontapé, socos, deram um soco na cara do juiz!!! O juiz expulsou o cara!!! Eles com dez, aí eles empataram, na marra, aí teve um lance que eu nem disputei com o cara, eu dei um carrinho pra escanteio, o cara nem participou. O juiz deu pênalti!!

Isso foi no Paulista de 1968?
Isso, no Paulista de 1968, segunda divisão... nem dá pra acreditar... eles fizeram 3 a 1!!! mas nós saímos vivos de lá!!! Até eu lembro que dei uma entrevista pro Jose Carlos Araujo sobre esse lance.

No campeonato de 1968, o Santo André liderou da primeira a última rodada e dependia apenas de um empate contra o pior time do campeonato, o Portofelicense, para ir a final, porém nós perdemos o jogo. O que aconteceu? O time achou que a vaga estava garantida, ou a mudança do jogo de domingo pra sábado, atrapalhou?
É verdade! o jogo foi antecipado mesmo! como vocês lembram disso??? (risos) Agora estou lembrando, nós estivemos lá!!! Era um campo de várzea, mas gramado. mas não houve nada disso não, é que os caras armaram uma correria do caramba e nós demos muito azar também. Nós discutimos, o Manga trocou mas não teve jeito. Foi um a zero pros caras. Nós perdemos muito de 1 a 0. Nós jogamos com o Oeste de Itápolis também, perdemos de 1 a 0 lá... aqui nós ganhamos, mas lá... o cara bateu um escanteio na meia lua, dentro da área. O Nelson, um baita jogador, subiu com o cotovelo na bola... pênalti! O Dorival, cara... parece que tinha 100 paus de bicho... Nossa Senhora... eu não falei nada com o cara, por que... mas o Dorival... "Você acabou com o meu bicho!!!" Deu a maior dura no cara. mas o cara jogava muito, mas deu branco cara!!! Deu branco!!! O cara não podia por a mão na bola, o cara parecia o Ademir da Guia, bom pra caramba!!! Então esse outro jogo aí... eu me lembro do jogo, foi um jogo duro, viu... os caras marcaram em cima...

Nosso amigo Elias até comenta aqui, que quando anteciparam o jogo para sábado, o Velo Clube enviou torcedores para Porto Feliz para apoiar o Portofelicense.
Ah! Eu não lembro não, acho que não tinha quase ninguém no campo, meu!!! Eu não me lembro disso não!! Não teve nada de pressão assim que eu lembre. Foi jogo normal. Os caras aprontaram uma correria e nós perdemos. Nós podíamos ganhar dos caras, tínhamos muito mais time, mas não adianta, aquele dia não adiantaria!!

Depois o time se licenciou, não jogou os campeonatos de 1969 e 1970.
Demos uma parada, em 1970, um tal de Valdemar Ferreira que já faleceu também, quis voltar com o time, fez vários amistosos, depois fez o São Paulo jogar aqui, só que o treinamento nosso era de amador, não pagava, não tinha salário, eles estavam se estruturando.

Onde vocês treinavam?
Treinávamos no campo do Sete de Setembro, no Valparaiso, com o mesmo uniforme que a gente jogava aqui, só tinha um uniforme. Nós jogamos contra o Rio Branco de Americana, jogamos lá e aqui. O São Paulo veio com o time misto. Contra o São Paulo foi jogo... nossa... Eu jogava de quarto-zagueiro e abaixo do peso é fogo... pra pegar o misto do São Paulo, os caras com um preparo físico violento... O que o nosso técnico fez no dia do jogo... tinha um negão que jogava lá atrás e ele quis me colocar em outro lugar... disse: "Você vai jogar de volante hoje." Eu disse "Pelo Amor de Deus, eu não agüento jogar de volante, não tenho preparo físico pra agüentar os caras." "Vai jogar de Volante!!" O time dos caras tinha o Zé Carlos Serrão, Gilberto Sorriso, Gersinho, que hoje mora na Vila Dirce... eu sei que começou o jogo, eu tinha que marcar o cara. Quando eu olho, o cara já tinha passado e já tava querendo marcar o gol no começo do jogo... eu pensei: "Como é que eu vou agüentar jogar com um cara desses." Não tem condição... Esse jogo eu não esqueço! Foi 1 a 0 pro São Paulo! Foi no Brunão! Aquele dia encheu, tinha bastante gente. Mas aí, você não recebe... só que eu trabalhava na Firestone, nunca larguei, nem podia... como é que eu ia fazer, não é que nem agora, com o salário de 15 ou 20 mil, naquela época pagava-se uma mixaria, não tinha como largar o emprego. Naquela época eu já tinha três filhos, um faleceu em 1968, quando eu jogava no time do Santo André, por um problema médico. mas como eu não ganhava nada, não havia como sustentar a família. Eu precisava construir minha casa, eu pagava aluguel, o pessoal me cobrando aluguel. Eu fui morar com a minha tia, pedi para ficar um ano e fiquei cinco. Passei um apuro mas construí a casa.

Naquela época o futebol não pagava bem...
Não!!! Tem uns times de fora que nem pagava nada!!! O cara te arrumava um emprego!!! Quando eu fui contratado lá pra Araçatuba, eu tinha um salário pequeno e um emprego na cidade, onde eu podia sair a vontade pra jogar. mas eu nem experimentei! Nem fui atrás. Por que eu queria mesmo era Volkswagen, jogar e trabalhar. Quando tinha jogo "fora" apareciam mais de sessenta jogadores na hora do jogo. Fomos fazer um jogo treino na Rua Javari, contra a Volkswagen, apareceu na hora do jogo na Volks um monte de jogadores... todos querendo jogar.

Qual a sua opinião quanto ao Santo André voltar a olhar pro futebol amador, uma vez que o último que teve foi o Anderson Careca?
O problema é que agora o moleque já chega na base e quer ir pra Europa. É muito difícil agora. Não fica, o cara não ama a camisa! Tem que honrar a camisa que veste! Não pensa em jogar uns cinco ou seis anos, não! Já quer ir pra Europa, já tem empresário! Quem ganha é o empresário! O empresário é quem está acabando com o futebol! Hoje você pega qualquer time de São Paulo, você não sabe a escalação!!! O Santo André deu essa melhorada boa neste ano, por que manteve a base, apenas modificando algumas peças! Eu acho que tinha que ficar no clube até 23 anos! Não tem condições de manter o time de base. Você vê o Neimar no Santos, o cara ganha a maior grana por mês!!! Tem cara no time titular do Santos que não ganha mais do que ele.

Vamos falar o nome de alguns jogadores daquela época... diga o que lembra da personalidade deles:

Dorival - Era goleiro, tinha uma personalidade muito forte, gostava de mandar mesmo. Ele falava e não tinha palavra suave com ele não! Aquele dia com o Nélson (do bicho) ele deixou o cara lá embaixo. Ele queria ganhar sempre, tinha uma personalidade super forte. mas comigo ele sempre foi legal. Muito disciplinado!

Dirceu - Cara gente fina, centroavante. Ele quase nem jogou no time! mas contra o Santos ele jogou sim. Não sei se ele saiu jogando de titular ou se entrou depois, mas ele era um cara que na várzea era artilheiro. Gente fina. Também trabalhava fora, tinha outro emprego.

Édson - Além de jogar muita bola, ele tinha uma liderança violenta! Ele também não queria perder de jeito nenhum! Ele jogava Muito! Eu joguei com ele muito tempo. Aconteceu um episódio comigo e com ele, que eu fiquei alguns dias sem dormir! Ele não quis por em pratos limpos... deixou como estava! Nós fizemos um jogo contra o Usina Santa Rosa do Viterbo, lá no meio do mato, na usina. Eu não sei o que houve, eu sei que machucou gente e nós ficamos sem zaga, eu nem me lembro por que. Eu sei que no treino, quando eu cheguei, por que eu trabalhava, o pessoal estava todos sentados e ele tava metendo o pau num cara, no meio da rodinha com o Manga junto. Eu pensei, poxa o cara que achou bom que machucou gente ele tem mais é que se danar mesmo. E ele metendo o pau no cara. Aí eu fui falar com o Anísio, que era o cara que se machucou, eu fui falar com ele, perguntei: "Anísio, quem era o cara que o Édson tava falando na roda?" ele disse "de você!!" eu falei "Que nada cara!! Onde se viu que eu ia falar alguma coisa com outro cara". Fiquei super chateado. Pensei que em uma outra hora a gente se explica! Aí parou, que eu não quis voltar no assunto, aí um tempo depois o técnico era Valdemar Ferreira, e nós estávamos treinando no campo do Sete. Quem aparece lá? O Édson. Eu era capitão, ele veio me chamar pra que eu o encaixasse no time de novo. Eu o encaixei no time de novo. Falei com o Valdemar: "O cara ta voltando, joga muito, pode colocar ele". Essa foi a minha resposta pra ele.

Zé Roberto - Era lateral. Tinha uma bomba no pé direito. As faltas era todas ele quem batia. Se fosse no gol era gol!! Eu não lembro se ele fez gols, na época a gente não ficava treinando específico, como agora, não tinha treinador de goleiro nem nada naquele tempo.

Fedato - Nós jogamos um dia, eu tava machucado, mas joguei, um amistoso no Corinthinha contra o Nacional. Jogou o Fedato e Feijão (Luiz Carlos Feijão), aquele que fez o papel de novo Pelé! Os dois jogavam muito. O Santo André ganhou de 2 a 1! Aí passou um tempo e trouxeram ele pra cá, os dois! mas eu acho que ele jogou um ou dois jogos depois sumiram também! Aí o Palmeiras aproveitou bem ele! Ele morreu faz pouco tempo! mas ele era bom, artilheiro mesmo! mas eu quase não convivi com ele, eu estava machucado e ele jogou muito pouco. Eu lembro que ele jogou um dia em que trouxeram uma seleção do Congo lá no Corinthinha, foi 1 a 0 gol de pênalti. Eu não joguei aquele jogo, estava assistindo, pois estava machucado. Foi logo após o jogo contra o Santos. Depois foi contra o Nacional. Tinha muita gente naquele jogo no Corinthinha. Lotou também igual contra o Santos, gente trepada em tudo quanto que era lugar! O pessoal gosta de jogo assim mas tem que anunciar antes, ter tudo programado direitinho! Apesar de que agora tem mais ou menos 1400 pessoas de média que pagam!

Tijolo - O Tijolo é aquele que jogou na Pirelli? Se for ele, eu só joguei contra. O Santo André fez dois treinos com a Pirelli e eu joguei contra ele. Nossa senhora... como jogava! O cara fez gol!!! Ele era um ponta esquerda ignorante pra chutar!!! Nesse jogo treino contra a Pirelli, que também era um time semi-profissional. Só boleiro!!! O jogo foi 4 a 2 pra eles!!! Acho que ele fez dois gols de fora da área, quase furou a rede. Era tipo Pepe, era um ignorante pra chutar!!! Depois trouxemos eles pra revanche no Corinthinha e ganhamos de 2 a 0 deles. mas eles tinham um belo time, era um tal de Galhardo que jogava na frente. A Pirelli sempre manteve times bons, com profissionais! Eles colocavam pra trabalhar na fábrica também!

Enir - O Enir era aquele meia esquerda clássico. Gente fina também. Marcou contra o Santos (Nota:primeiro gol oficial da história do Santo André). É, foi ele mesmo. Eu me esqueço de muitas coisas dessa época!!!

Alberto - Veio de Paranapiacaba! Nossa, jogava muita bola!!! Ele fazia o ala!!! Era um jogador tipo Cafu!!! Ia e voltava!!! Incrível!!!

Zezé - Veio de Santos, um cara rodado, experiente, jogava muita bola! Tinha experiência internacional! Ele é quem acalmava o time! A gente começou a ganhar vários jogos por causa dele, daquela experiência dele, a gente era tudo meio afoito! Gostei muito desse cara! Veio e colocou ordem na casa!

Mario - Também veio de Santos, era um volante tipo Pierre, Josué... o cara participa, sabe jogar, os passes tudo certinho. Um cara que é difícil você ver agora.

E o Manga?
Deixa contar uma coisa, quando eu machuquei o joelho, quando eu voltei a treinar, se houvesse um departamento médico, pra que eu voltasse devagarzinho, tivesse um acompanhamento... Não! Já me jogaram pro treino! Aí nós fizemos uma roda e o Manga é quem dava o aquecimento pra gente. Ele pegou um bambu, de mais ou menos um metro de comprimento, e começou... rodar nas pernas da gente! Tinha que pular... E eu com o joelho doendo!!! E tinha que pular!!! Se não levava cada bambuzada na perna!!! Aí o joelho inchou!!! Depois do treino ele desinchava, voltava ao normal!! mas era o que acontecia. Não tem nada disso agora, o técnico só trabalha com o time. O técnico hoje só trabalha no campo!!

O Elias conta que pelo que consta em seus arquivos tinha o Cabeção 1 e o Cabeção 2... ele pergunta quem eram os "Cabeções".
O Coletti jogou em Portugal, depois na Bolívia ou no Equador, ele acho que foi o Cabeção 1, por que ele era mais velho!! O Cabeção 2 era o Baitá, da várzea, não sei se é esse!! mas ele não chegou a ser profissional!!! Ele morreu muito cedo, com menos de 30 anos!! Ele trabalhava comigo na Firestone, arrumaram emprego pra ele, era eu, ele, o Roni que jogou também no Santo André. O Roni agora tomou jeito, estudou...

Você tem contato com os jogadores daquela época?
Tenho um contato maior com o Alberto. O restante a gente não se vê mais, há alguns anos atrás eu vi o Enir, tava jogando na várzea também! Ele tinha uma coisa gozada, parecia pai de santo!!! Ele andava com uns colares no pescoço. Ele treinava com os colares! (risos) A gente tinha uma amizade muito grande! Agora, pra ver é difícil. O Zé Roberto nunca mais eu vi! Esse Dorival deve morar em outra cidade! O pessoal que era de Santos, também não vejo mais. O Nelson jogou no Saad, uns três anos depois. Jogou contra nós aqui!!! Eu não vi mais esses caras, devem estar em Santos!!! Contato mesmo nesses últimos anos eu só tive com o Albertinho!!!

Para você, o que significou jogar no Santo André?
Pra mim foi a maior emoção!! Por que eu jamais esperaria ser profissional aos 24 anos!! Eu já não esperava mais!! mas aí deu tudo certinho!!! Meu chefe falou: "Vai que eu garanto aqui na fábrica!" Chegando lá no time o pessoal reconhece a gente... Nossa é bacana pra caramba!!!

Como foi para você ver o Santo André no Maracanã, sendo campeão da Copa do Brasil e pensar: eu fui o primeiro zagueiro desse time?
Ohh! Nossa Senhora... eu nem acredito em um negócio desses!!! É impossível!!! Ganhar do Flamengo lá!!! Por que ali, todo mundo ajuda o Flamengo, pra começar o juiz!!! Todos querem ele lá em cima, por causa da torcida!!! E calar a boca dos caras lá!!! Eu tenho os pôsteres guardados em uma pasta!!! Só da minha época não tem!!! Eu sinto muito por causa disso, de não ser lembrado. O Primeiro de Maio de vez em quando chama a gente, mas agora já tem algum tempo que ninguém liga!!! O cara que se lembrava da gente, o Wilson Apolônio que também jogou futebol, no começo do século, no Primeiro de Maio. Ele me chamava. mas ele faleceu há uns dez anos. Aí acabou a memória. Agora me deram uma carteirinha pra entrar no clube, mas o certo era dar um título para cada um. Eu tenho um monte de medalha aí! Se eu tiver cinqüenta, trinta são do Primeiro de Maio. Toda semana a gente era campeão! Toda semana! A gente papava tudo, campeonato regional, litoral, uma ou outra a gente perdia. Só que naquele tempo era Futebol de Salão, agora é Futsal. Hoje os caras ganham dinheiro pra jogar, antigamente não. Não que o dinheiro seja a maior motivação, mas o fato de você tiver tranqüilo em casa, sem passar por problemas, é outra coisa. Se tiver uma doença não tem plano de saúde... é difícil pra caramba!!! Eu fui atropelado há pouco tempo foram cinco fraturas só na perna!!! Graças a Deus estou recuperado, até por ter sido atleta, me ajudou na recuperação!!!


Tem algum fato curioso ou engraçado da sua carreira?
A gente jogava na várzea... lá na Vila Alice, eu casei em 1965. Tinha um bar, e tinha um rapaz que jogava com a gente no Vila Alice e perguntou: "Você não quer jogar na Simca não? Aí você arruma um emprego lá." Eu disse "Ah! Ta bom." Fui lá no sábado e já na segunda feira já estava na fábrica. Na terça-feira fui fazer exame médico. Todo mundo me conhece por Cite, eu nem atendo pelo meu nome. Aí eu estava esperando pra ser chamado pelo médico, e começamos a conversar com os caras que estavam por lá, aí um cara perguntou pra mim de onde eu era, eu disse que era da Vila Alice. Ele disse: "Você é da Vila Alice?? Eu conheço um monte de gente lá!!! Conheço o Cite, o Doda irmão do Cite, o Plínio", falou os nomes de alguns boleiros, e eu tava na frente dele... Aí eu falei: "Você conhece o Cite?" ele disse "Conheço sim!" Então eu disse: "Muito Prazer. Eu sou o Cite!" (risos). O cara foi lá embaixo!!!

Seu irmão jogou no Santo André?
Jogou um tempo, sim! Jogava de meio armador, meia esquerda! Daqueles que não existe mais hoje! Batia pênalti, batia falta, nessa parte ele era bem melhor que eu. E não treinava hein, nada de treino!

Cite, mande uma mensagem aos Ramalhonautas!
Será que eu consigo? (emocionado) Eu queria parabenizar o trabalho de vocês e dizer que vocês continuem a apoiar o Santo André, que o Santo André precisa muito de vocês. Quero agradecer esse bate-papo, pois vocês foram os únicos a lembrar de mim... e quando precisar é só procurar que a gente está as ordens!

Muito Obrigado!