Hoje é aniversário da cidade. Data para relembrar histórias fantásticas e pessoas ilustres que ajudaram a construir essa história.
A história da cidade se confunde com a do time de futebol e com a história de uma figura ilustre do esporte Andreense. A do senhor Wigand Rodrigues dos Santos.
Hoje vou apenas relatar a história do primeiro jogo do Santo André contada pelo seu protagonista em uma entrevista concedida em 2010 no tradicional bar do Mazinho...
Como foi a formação do time do Santo André?
A história é longa, Santo André sempre teve um futebol amador muito forte, havia bairros com cinco ou seis agremiações esportivas amadoras, mas não tinha uma representação de futebol profissional e nem tradição no profissionalismo, diferente de outras cidades do Estado como Santos que tinha o próprio Santos, a Portuguesa Santista, o Jabaquara... Ribeirão Preto que tinha o Comercial, Botafogo... Campinas com Ponte Preta e Guarani... Santo André não tinha uma representação profissional.
Eu fui eleito presidente da Liga (Liga Santoandreense de Futebol) e tinha a consciência dessa lacuna na cidade no que diz respeito ao futebol. Fizemos um bom trabalho na Liga Santoandreense de Futebol, criamos mais de 100 clubes, os ajudamos a se reorganizarem burocraticamente junto aos poderes constituídos (Federação). Naquele tempo tinha Alvará de Funcionamento Desportivo que era obrigatório e tinha que tirar em São Paulo.
O primeiro campeonato que nós dirigimos na Liga reuniu quase cem clubes amadores. Eram campeonatos principais e aspirantes, porque a Federação Paulista também determinava a existência da representação de Aspirantes. Então as cem equipes principais mais as aspirantes formaram quase duzentas equipes de futebol na cidade. Isso para jogar nos domingos. A decisão demandou uma quantidade de campos muito grande.
Essa efervescência na Liga de Futebol era tão grande que o trânsito chegava a parar na Rua Gertrudes de Lima nos dias de acerto de jogo, tal a quantidade de dirigentes de clubes amadores que lá compareciam.
E o assunto quando se discutia futebol profissional e que não envolvia interesse imediato dos clubes era exatamente sobre a não existência de uma representação profissional na cidade de Santo André.
Foi por isso que, ouvido os desportistas da cidade, nós publicamos no boletim oficial da Liga uma carta aberta a todos os desportistas da cidade lamentando a inexistência de uma representação e propondo a fundação de um clube que levasse o nome da cidade. Complementamos que seria usado como o distintivo, em cima do coração o brasão do município e o nome “Santo André”!
Assim convocamos uma assembléia no Tiro de Guerra, gentilmente cedida pelo seu comandante à época. Lá comparecemos e juntamente com cerca de trezentos representantes de clubes amadores.
Nessa Assembléia foi aprovada fundação do clube, o projeto de estatuto do clube, foi eleito o primeiro conselho deliberativo com cinqüenta e um presidentes de clubes amadores, que foi o primeiro conselho deliberativo do Santo André. Nome do presidente e nome da agremiação. Temos nesta ata também lá no clube. Foi assim que fundamos o Santo André, de uma forma totalmente diferente do que já houve no Brasil. Não foi por obra e graça do Espírito Santo que “deu na telha” para se formar um clube de futebol profissional.
Eu fui um instrumento de uma vontade popular. A vontade que existia naquele momento no seio da Liga de Santo André, dos clubes amadores de Santo André. Foi assim que fundamos o Santo André... Elegemos como presidente o Doutor Newton da Costa Brandão, e aqui precisa abrir um parênteses porque ele era político e nós achávamos que ele deveria ser o novo presidente do clube e mantínhamos essa posição porque acreditávamos que ele se elegeria prefeito, como de fato se elegeu. E como prefeito procurou ajudar o Santo André na medida do possível e depois com a cessão da área do Distrital do Jaçatuba, onde temos um clube maravilhoso. Então assim elegemos o Doutor Brandão como o primeiro presidente, eu aceitei a ficar na chapa como Vice e com a diretoria formada nós começamos os treinamentos lá no campo da Laminação Nacional de Metais.
Escolha do primeiro amistoso: Santos Futebol Clube
A Diretoria do Santo André deliberou fazer uma apresentação oficial do Santo André para a cidade, sua população e seus desportistas. Por intermédio do Nestor Pacheco Junior (já falecido) que tinha um alto conceito com o time do Santos, pois fora diretor do Santos também, foi acertado um amistoso aqui no estádio Américo Guazzelli, o campo do Corinthinha que nós chamávamos, onde seria apresentado o time do Santo André.
Nesse jogo amistoso o Pelé compareceu com a dona Rose, no dia do aniversário da cidade de Santo André, dia oito de Abril de 1968 e houve então a partida de futebol onde o Santo André saiu vitorioso por dois tentos a um, sendo o primeiro gol marcado pelo Enir Ghirelli. Foi assim a primeira apresentação do time, com o estádio Américo Guazzelli lotado, a polícia teve até que impedir o acesso no estádio, pois a participação popular foi muito grande, e ganhamos de dois a um. Isso para início de conversa foi até muito bom porque ganhar do Santos não era fácil, naquela época eram imbatíveis.
Como foi o clima na cidade para receber o Santos no primeiro jogo do time profissional
Nós recebemos o apoio indescritível da mídia local, da imprensa. Naquele tempo o News Seller, que ainda não havia se transformado no Diário do Grande ABC, deram toda a cobertura do evento em Santo André. A expectativa foi muito grande porque era o noviciado do Santo André jogando contra o Santos... Esperava-se até goleada (desfavorável). Mas o time do Santo André se portou com dignidade e com brio em campo, igualou a partida e ganhamos de dois tentos a um, gols do Enir e do Zezé, que era jogador do Santo André e o gol do Santos foi feito pelo Negreiros, num escanteio batido pelo Pepe. O fato é que a cidade botou fé... Até mesmo os pessimistas botaram fé que havia possibilidade de se manter um time de futebol profissional na cidade.
O zagueiro Anisio lembrou... "Nós tínhamos mais jogadores experientes como o Zezé, o Dorival que era o goleiro, o Zezé teve uma importância fundamental ainda mais com o pessoal que era amador em santo André, procurou acalmar a todos, sabendo da importância do jogo, o primeiro da história do Santo André e que eles deveriam jogar naturalmente como se estivessem jogando com um time amador ou qualquer outro time, sem maiores problemas onde se ganhasse ótimo, mas se perdêssemos, não seria nenhuma desonra. Felizmente deu certo!"
Marcelo Alves Bellotti